"Odeio as almas estreitas, sem bálsamo e
sem veneno, feitas sem nada de bondade e sem nada de maldade."
(Nietzsche)


quarta-feira, 25 de março de 2009

No covil da jararaca - Parte I



Eis que minha impaciência me obriga a desabafar sobre tão nobre assunto!
O grande Kafka argumentaria: "Todas as falhas humanas provêm da impaciência." Que seja!
Pareceria um blog de machos reclamões, caso não estivessem habituados ao meu humor negro...
Pois bem, minha sogra é uma jararaca!
Como tenho esse espaço gracioso e relevante para atormentar outras almas com minhas sandices, pergunto-me: Por que não abordar tal tema?
É fato consumado que ando mal-humorada, anti-social e estressada. [PRONTO, EU ASSUMO!] Mas perguntem-se o porquê da infâmia!
Ora, ora... é ela!
A priori deixarei claros alguns defeitos inerentes a essa reles Malvadinha:
1- Sou humanamente individualista, para tanto, odeio que cerquem meu espaço, minhas coisas, e PRINCIPALMENTE, que estiquem esse dedinho chamado indicador e se achem no direito de metê-lo nos assuntos que digam respeito somente, e sumariamente, a mim!
Ganivet sussurra à meia-voz: "A personalidade se acentua mediante o exercício."
2- Sou incapacitada de demonstrar sentimentos falsos. Em suma, odeio fazer caras e bocas para quem pouco me interessa. Se gosto percebe-se, se não...
Bem, hahaha... também é perceptível!
3- Fico indignada diante de injustiças. Tipo pessoas que nada fazem além de criticar o que os outros fizeram. Ou aquela pessoa que tenta infernizar a vida de alguém que deseja apenas conviver pacificamente.
Tácito murmura: "Quem se enfada pelas críticas, reconhece que as tenha merecido."
4- Necessito de um espaço reservado, onde eu possa ficar sozinha, surtar sozinha, chorar sozinha, onde ninguém mexa nas minhas coisas, onde tudo esteja como eu desejar.
Vero... sou realmente individualista!
5- Tenho uma tendência enorme a evitar brigas. Portanto, costumo ir juntando insultos... esperando o dia em que tal pessoa irá mudar... engolindo alguns desaforos... Tudo em nome da santa paz. Peraí... não sou um monge budista! Uma hora eu estouro. Aí mora o perigo... minha alma é estritamente vingativa!
Pois bem, acho que consegui situá-los quanto a minha personalidade "Foda-se quem me odeia!". Ora, mas "Só aos grandes homens cabe terem grandes defeitos.", minimizaria La Rochefoucauld.
Considerando os fatos supracitados... Estou em apuros!
É de conhecimento geral que estou namorando. Como meus leitores-amigos são espertos, perceberam que nossas personalidades são conflitantes.
O que ocorre quando dois malvados se apaixonam? Yeah! Ficam bonzinhos! [até que iniciam uma série de provocações mútuas!]. Como se já não bastasse isso, meu namorado Invocadão é também meu primo em 2° grau. [Essa é uma história meio demorada, volto a falar sobre isso em outro post...]. E se me faltavam problemas, ele tem uma mãe neurótica, ciumenta e maquiavélica.
Você deve estar pensando: P.Q.P.!
Em minha vida sogras nunca foram problemas. A primeira, apesar de pabulenta, me tratava muitíssimo bem. [até hoje acredita que voltarei a ser sua nora... Tsc!]. A segunda, entrou na minha vida como uma segunda mãe. E como ela mesma se denomina, é minha bruxa-madrinha. [com essa eu pude contar nos bons e maus momentos...] . Mas a terceira está sendo como uma das sete pragas do Egito! Êta mulherzinha intragável!
Conhecem a máxima: "Morar com sogra é fazer vestibular para o céu."? Eita... resume minha vida!
Eu tentei agradá-la, juro! E no início ela era um encanto. Bastou o namoro ser anunciado, começaram as farpinhas. Para tormento meu, preciso aturá-la!
Não posso negar minha essência malvada. Resolvi dividir com vocês tal escárnio porque Dona Encrenca passou dos limites.
É... ela tentou envenenar minha mãe contra mim. Chego a salivar só de pensar no desaforo. Não contente em infernizar meu namoro, ela resolve recorrer ao que considero mais sagrado: minha família. Prudente, Apostólio profetiza: "Muito ousar faz que se cometam muitos erros."
Pára tudoooooooooo!!!!!! Agora pisou forte no calo!
Tenho a sorte de possuir uma mãe astuta, que não engole qualquer conversinha. Em uma visita ela percebeu o ninho de cobras no qual me meti. Como não poderia ser diferente, a Sra Malvada avisou-me do ocorrido. Com toda a sua diplomacia, pediu-me para ignorar. Sem saber, ela apoiou-se em Gracian, quando ele diz: "Não há maior vingança do que o esquecimento."
Estou tentando, leitores-amigos. Estou tentando ignorar...
Tem sido difícil, por isso esse mau-humor constante... essa vontade de fazer nada... essas reações explosivas diante de fatos pueris. Simplesmente não consigo mais viver nesse covil.
Digam-me: Sai daí, Emy!
Respondo: Não posso! Quero ficar perto dele... preciso dele para ser feliz!
Jamais transferiria o mau-estar. Antes de tudo, ela é a mãe do Invocadão e tal fato me impede de desejar ou fazer qualquer mal. Acabo por aborrecer-me com ele facilmente. [Deve ser uma resposta inconsciente à passividade dele diante da situação.]
Na verdade, eu queria que ele entendesse o quanto isso me afeta. O quanto me esforço, mesmo que não dê a entender, para ficar junto dele. Não devo ser muito boa falando!
Tenho plena consciência dos meus defeitos, bem como de minhas qualidades. Por que alguém não aceitaria uma nora bonita, inteligente, educada, de boa família e futuro promissor? [Sem falsa modéstia, por favor!] Bernard Shaw, toma a frente e responde: "Um homem nunca te diz algo, até que você o contradiga."
O Invocadão a defende: ela só tem ciúmes de você! Defendo-me com Cervantes: "São sempre desatinadas as vinganças por ciúmes."
Um grande amigo sabiamente me disse: Você se considera tão pequena a ponto de enumerar defeitos pelos quais ela te rejeita? Então eu lhe digo que é bem feito! Mas se desejar sair dessa de mãos limpas e consciência tranquila, siga o conselho da Sra Malvada, mas não esqueça de praticar suas pequenas maldades. Citou-me então, Beaumarchais: "Sem liberdade de criticar, não existe elogio sincero."
Aquilo me doeu feito uma bofetada. Passei o dia todo a pensar no assunto, mais ranzinza do que de costume... distribuindo farpas aos demais. Eu preciso ter meu espaço... necessito ficar só. Decidi ter uma conversa téte-a-téte com ela e aproximei-me. Observei sua postura, sua expressão e o olhar. Entendi que esse é um jogo que se joga sem palavras. De nada adiantaria expor os fatos e argumentos. Ela não quer entender. Eu não vou desistir.
Elaborei a partir daí minha estratégia mirabolante. Deixarei-os sedentos de curiosidade... adianto que tomei por base Voltaire: "O segredo de aborrecer é dizer tudo". Digo-lhes, entretanto, que nem tudo é dito com palavras.

Um pouco mais aliviada,
Srta Emy.